volúpia azul

02 setembro 2005

Algo de estranho povoa o universo Disney

Senão vejamos: quem são as principais personagens daqueles livros da nossa infância? Ora deixa cá ver: o Mickey, a Minnie, os sobrinhos do Mickey, o Pateta, o Donald, a Margarida, os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho, o Patinhas, claro, e os actores secundários Gastão, Peninha, prof. Pardal, o Patacôncio, a horda de bruxas, etc, etc.

No universo Disney há irmãos, mas não há pais nem mães. É estranho: surgem patos e ratos e cães por geração espontânea!
E no entanto, há tios. Há muitos tios. E tias. Parece que os tiques sociais acompanham a Disneylândia desde o início...

Mas onde estão os pais e as mães? Haverá aqui uma marca da personalidade de Walt Disney (um qualquer complexo edipiano ou o resultado de uma perda familiar precoce?)

Depois, excluindo as crianças, nenhum deles aparenta qualquer estabilidade emocional. Os homens não têm amigos. Só primos (primas não há, exceptuando as Lalá, Lelé e Lili...). As mulheres não têm familiares, só têm amigas (vide as reuniões de chá entre a Margarida, a Minnie, a Clarabóia, ou Clarabela, ou lá o que era, e as outras todas). O que quererá isto dizer?

De uma forma ou de outra todos desenvolvem relações emocionais amorosas sem nunca se envolverem a sério: o Mickey não vive com a Minnie, a Margarida não vive com o Donald. E no entanto, vislumbramos ali uma espécie de célula familiar.
Por outro lado, o Gastão, que é um belíssimo partido, tem uma catrefa de miúdas atrás mas não lhes liga grande coisa... O Pateta, coitado, só faz jus ao nome. O Peninha, mais vale nem falar... Bom, e o Prof. Pardal, esse diverte-se sozinho com o Lampadinha...

Por outro lado, estas não-relações não deixam de ser compreensíveis: por que haveria a Margarida de comprometer-se com um tipo vestido à marinheirinho sem calças, ou a Minnie com um rato que anda sempre de luvas?

O que é certo é que aquela bicharada é toda muito perturbada. O Patinhas agarrado à sua n.º 1 a dar mergulhos numa caixa-forte cheia de moedas não deixa de ser um símbolo da recusa em crescer e encarar o mundo. Aliás, quem é que anda vestido com uma cartola e um roupão vermelho? E sem calças (outra vez?), mas com umas delicadas polainas que lhe dão sem dúvida um ar distinto.

De resto, são todos péssimos exemplos: o Gastão é um sortudo oportunista que sempre me irritou bastante. O Donald é um desgraçado, humilhado pela inteligência dos sobrinhos, sempre desempregado, a viver de expedientes que o tio lá lhe vai arranjando. O Pateta é outro que tal, e o Peninha pertence à mesma liga.
As mulheres, essas, nem têm direito a profissão (sim, que o mundo Disney não está para igualdade entre os sexos, não querem lá ver...). Bom, excluindo as bruxas, claro...

Que raio de exemplos nos transmitiram na nossa infância? Que sociedade esperamos com estes modelos?