volúpia azul

28 junho 2005

A fúria do açúcar


O russo apanhou a duchesse com o esquimó na cama de fios de ovos.
Ficou louco de ciúme ao ver que o esquimó lhe mordiscava uma orelha. O russo perdeu as estribeiras e enfureceu-se: subiu à pirâmide de chocolate e num éclair saltou sobre o pobre esquimó, partindo-lhe uma tíbia e acabando por lhe arrancar um rim.
A duchesse, apavorada, estrebuchava espargindo chantilly por todo o lado.
Num sublime acto de vingança, o russo pegou no travesseiro e tentou asfixiá-la.
O são marcos apercebeu-se e ainda tentou salvá-la lançando-se contra o russo, mas este esborrachou-o de um só golpe de alto a baixo.
Convencido de que não era nenhum pastel de nata, o indignado alsaciano também atacou. Enrolaram-se alsaciano e russo, enquanto a finória duchesse se recompunha, alinhando os seus fios de ovos e os pedacinhos de ananás.
No meio de tanta confusão já havia açúcar em pó pelo ar, bocados de creme, e até começaram a voar mil-folhas por todo o lado.
O jesuíta ainda tentou apanhá-las para recompor as coisas mas o caos estava instalado. A madalena chorava babá e ranho, e o queque, apesar de toda aquela comoção, demonstrava uma irritante indiferença.
A coisa estava mesmo torta e não se pode dizer que estivessem a passar um bom bocado.
Nisto, o russo e o alsaciano caíram na taça das trouxas de ovos. O russo amoleceu com a calda de açúcar e o alsaciano, desejoso da sua recompensa, chegou-se à duchesse.
Ela abraçou-o reconhecida e ele transformou-se numa delícia de ananás.

7 Comments:

  • No meio disto tudo, o que fazia o pastel de nata?

    By Blogger sgs, at 29 junho, 2005 11:13  

  • Ficou de fora o bolo de arroz pois pela sua secura não se envolve nestas marmeladas e até acha que o creme não compensa. Não deverá ser por razões xenófobas uma vez que mora muito perto das bolas de berlim.

    E com isto tudo, tou com uma vontade danada de comer um diabo de um bolo cheio de natas e afins... Ai, ai!
    beijinhos
    mãezita

    By Anonymous Anónimo, at 29 junho, 2005 14:41  

  • Genial!
    :)

    By Anonymous Anónimo, at 29 junho, 2005 18:57  

  • um conto que não pode ser lido por diabéticos!!!Que lindo! Por que não um livro cheio de mil folhas destas???

    By Blogger ana ventura, at 01 julho, 2005 01:07  

  • Só agora entrei na crónica pasteleira. Mas, seguramente, venho a tempo de salvar o S. Marcos da confusão. Parece-me que este meu "santo" preferido ficou incólume, pelo que me ofereço para tratar dele. Podes enviar-mo via correio expresso, só com um pedido extra, tem de chegar fresquinho.

    By Anonymous Anónimo, at 01 julho, 2005 11:21  

  • O texto anterior parece fora da realidade do conto, pois se o S. Marcos foi esmagado. Mas as aparências iludem. Vejam como.
    Incólume, em linguagem pasteleira livre, significa "incolheu de volume". Como estanos na era das tecnologias, o S. Marcos não podia deixar de ser um bolo liofilizado. Ao ser atacado pelo Russo e ao sentir a sua densidade, vendo que numa luta corpo a corpo seria inevitavelmente esmagado, serviu-se da técnica contra a força. Aproveitou a energia do impacto, perdendo a sua água, que de imediato lhe atirou às ventas. Evitou assim que o Russo se apercebese do seu verdadeiro estado de "incolhido", mas com o essencial salvo. Os preciosos ingredientes que lhe dão o sabor e a características específicas. A àgua é um simples aditivo para fazer volume.
    Juntando água fresquinha, O S. Marcos voltou à vida e está pronto para satisfazer um guloso.

    By Anonymous Anónimo, at 01 julho, 2005 11:57  

  • Adoça-nos com mais histórias, please!

    By Blogger sgs, at 04 julho, 2005 10:38  

Enviar um comentário

<< Home